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TÉCNICA GRUPAL: A ESPIRAL DA VIDA

01.Novembro.2016
 

I. Fundamentos e objetivos da Espiral da Vida (1)

Antecedentes da Espiral da vida:
Em 1980, Emílio Romero registrou no departamento de autores A Espiral da Vida, uma técnica de dinâmica de grupo idealizada e materializada por ele.


A Espiral da Vida é uma técnica terapêutica ideada para estimular a criatividade e o desenvolvimento numa situação de trabalho grupal. A capacidade criativa é um potencial que se encontra em menor ou maior grau, em todo ser humano; mas esta capacidade é tolhida, inibida bloqueada por uma série de fatores. Fatores sociais e psicológicos levam as pessoas a condutas rotineiras, repetitivas, mecânicas, que são as atitudes anti-criativas por excelência.
Como facilitar a criatividade em situações grupais? Como facilitar a interação mais livre e verdadeira entre os membros de um grupo, formal e informal?
Num grupo de trabalho terapêutico -isto é, organizado para experimentar situações que estimulem mudanças efetivas entre os participantes nos mais diversos planos- a espiral da vida pode ser apresentada como um jogo, como uma forma de colocar questões sérias alternando-as com tarefas que facilitam a descontração e estimulam o sentido lúdico entre os participantes.
Trata-se de uma forma de jogo da verdade, pois os integrantes do grupo realizarão determinadas tarefas ideadas para estimular alguns aspectos fundamentais na vida da pessoa. Estes fatores estão já presentes em todos nós, mas geralmente estão presentes de maneira insuficiente, as vezes até embrionários.
Por ser uma técnica ativa e mobilizadora os participantes precisam realizar determinadas tarefas ou exercícios; são tarefas aparentemente simples, que a maioria das pessoas já  tem experimentado em diversas situações. Todas elas são um convite para que a pessoa explore seu próprio mundo pessoal e o dos outros participantes. As 120 tarefas propostas pela Espiral incluem boa arte dos aspectos humanos, destacando-se as grandes  dimensões da existência,  a saber:
a)a Dm afetiva, b)a Dm interpessoal e social , c)a Dm sócio-política, d)a Dm valorativa, e) a Dm corporal, f) a Dm da auto-percepção, g) a Dm  imaginária.
Veja duas tarefas que  convidam a um exame de si:

“Fale-nos dos aspectos nutritivos de seu cotidiano, aqueles aspectos de sua vida que o alimentam tanto na esfera física como na mental”
“Você está entrando na Galeria Oficial de pessoas importantes. Seu retrato também está ali. a)Descreva seu quadro; b)como está vestido; c) qual é sua posse; d) Que impressão lhe provoca; e) por que motivo se encontra na Galeria de pessoas notáveis.

São duas formas de indagar aspectos da vida pessoal. Na primeira é preciso fazer um levantamento das muitas fontes que nutrem nossa vida;  algumas delas parecem estar em segundo plano ou num primeiro análise o sujeito não as percebe. Certamente há pessoas que  parecem ignorar o lado espiritual da vida – como é ter  amigos honestos, ou usufruir de alguma arte. A tarefa do quadro exige que o indivíduo exteriorize o lado mais público de si e o senso de sua importância. Surpreende que muitos não chegam a ver o motivo de haver sido distinguidos nessa galeria, o que provavelmente indica uma baixa auto-estima ou escassas ambições.
  Não apenas isso. Algumas tarefas se relacionam com o modo de compreender o sujeito  a realidade sócio-econômica e seu possível papel nesse contexto. E o caso destas três tarefas:
- “Descreva o país que você gostaria habitar, pode ser um país real ou imaginário”. Ou:
- “Seja feminista por alguns minutos. Seja machista por alguns minutos”.
- “Alguns governantes são famosos não apenas porque foram poderosos, marcando com sua presença sua época, mas também foram duros e cruéis. Henrique VIII, Hitler, Stalin estão neste caso. Faça  a acusação ou a defesa  de um deles.”

A segunda tarefa se presta a um momento de bom humor, mas o que diga a pessoa vai a traduzir provavelmente aspectos de significativos das duas atitudes indicadas. A primeira permite detectar o grau de visão política do mundo social predominante  no indivíduo. Não é surpreendente que sua visão neste plano seja ingênua, com escasso senso crítico, mera fantasia de um hedonismo elementar. A terceira é a mais perturbadora. As figuras históricas indicadas são altamente polêmicas, suscitando ainda hoje as reações mais opostas. É provável que pessoas com simpatias por ditaduras de mão dura tendam a uma defesa destes personagens; não são poucos os que ainda acreditam que uma ordem rígida, militarizada, é a melhor maneira de evitar o caos e a  anomia  social, mesmo a custa do sacrifício das liberdades essenciais.
  Há tarefas que colocam no espaço grupal uma questão que nos afeta a todos, mesmo quando pensemos que seja um evento ainda bastante distante ou  o vejamos como um evento que ameaça apenas ao vizinho: a questão da morte:
- “Você acaba de morrer. Identifique algumas pessoas que estão em seu enterro. Depois, uma pessoa vai dizer algumas palavras de despedida. Quem é ela e diga-nos o que está falando”
Esta tarefa costuma provocar fortes reações emocionais no executante. Não apenas coloca a questão da finitude pessoal, coloca igualmente o eventual efeito que possa suscitar nossa morte nas pessoas que acreditamos como importantes para nós. Repara-se que estarão presentes as pessoas que o falecido sente do círculo de seus afetos. A parte mais emotiva são as palavras de despedida e quem será o escolhido para essa ocasião. Alguns participantes preferem optar pelo lado da brincadeira, ora para evitar a emergência do emocional, ora porque  não ponderam ainda o lado finito da própria existência.
Contudo, não se pense que a Espiral se move sobretudo nas áreas mais problemáticas e angustiantes do acontecer humano. O fator lúdico está presente em numerosos exercícios. Veja:
- “Você é quiromântico. Leia as mãos de cada membro do grupo. Seja sério e criativo”
- “Em seguida você vai falar com seu futuro sogro (ou sogra). Você sabe que ele não lhe tem simpatia. Você tentará persuadi-lo de algum modo que você é um bom partido Escolha um dos presente como o sogro (ou sogra). Se você prefere falar com a sogra fique a vontade”.
São duas cartas vermelhas. A graça do desempenho vai depender da criatividade da pessoa; poderá assumir o papel como se fosse o quiromântico revelando alguns aspectos do presente e do futuro imediato; poderá provocar suspense e tensão. O mais inventivo é provável que  declare já ter feito estudos de pós-grado neste ofício. Talvez diga quais são os aspectos que é preciso considerar nas linhas para que a leitura se atenha aos princípios científicos. Se por acaso andou folhando um manual sobre este assunto ficará ainda mais engraçado e até emocionante, pois as pessoas tendem a acreditar facilmente nesse tipo de magia.
Convencer a um (a) sogro (a) que olha com escassa simpatia ao pretendente de sua filha (ou filho) é outra situação que requer certa astúcia e uma rápida percepção dos pontos vulneráveis do sogro. Dizer à sogra que acredita piamente no ditado chinês que ensina que uma boa maneira de saber como será a esposa em 10 anos é vendo como é a sogra atualmente pode ser um bom argumento –sempre que a senhora entenda que se trata de um elogio a sua pessoa. Os entendidos ensinam que se ganha às mulheres com argumentos sentimentais, e aos homens com a perspectiva de obter um ganho certo. De todas maneiras, como se trata de uma situação que se presta a brincadeiras, os argumentos mais fora de propósito resultam os mais hilariantes.
A espiral se propões estimular 4 fatores básicos:
- a espontaneidade,
- a autenticidade,
- a criatividade e
- a liberdade.
É o Esaucrilib, abreviação destes 4 fatores. Destes fatores depende em grande medida a realização possível do ser humano. Aliás, este é o objetivo de um trabalho terapêutico: estimular e efetivar estas características inerentes ao ente humano.  Nas duas formas de aplicação, estes são os objetivos precípuos da técnica. Em geral estes 4 fatores tendem a ser descuidados pelas pessoas; não são muitos os que se empenham em seu aprimoramento. Em certo modo, aspectos significativos do processo de socialização tende a tolher, e inclusive sufocar, a conquista deste objetivos. Basta observar quão presentes estão eles no mundo da criança. Nesta etapa predomina a espontaneidade e a liberdade em sua expressão mais simples e ingênua. O mesmo acontece com a autenticidade. Mas a medida que passam os anos o sistema educacional e as exigências para que  as crianças se adaptem aos padrões dominantes no sistema social terminam por ir restringindo a manifestação destes fatores.
II . Material

-.O jogo consta de um tabuleiro onde está desenhada uma espiral divida em 36 casinhas (ou caselas)
- Existes 3 jogos de cartas, diferenciados por cores distintas. Em tese, cada cor indica um aumento da complexidade nas tarefas, sendo as mais fáceis as verdes, e as mais difíceis as vermelhas. Nem sempre é assim.
- Cada jogo consta de entre 35 a 45 cartas fazendo um total de120 cartas
- Cada carta indica uma tarefa ou exercício a ser realizado pelo participante no jogo
- O jogo inclui 8 a 10 fichas que vão representar aos jogadores. Estas fichas ficam no centro da espiral. Uma vez finalizada a tarefa  o participante escolhe a ficha de seu gosto para colocá-la na casela que lhe corresponda.
- Em cada uma das casinhas está escrito um aforismo que destaca uma virtude esperável em cada etapa do desenvolvimento. O cumprimento destas virtudes assegura à pessoa o aprimoramento de si e o melhor entendimento de si e de seu mundo –as coisas e as pessoas.
Outros detalhes desta  técnica de desenvolvimento humano em situação grupal estão descritas no Manual da Espiral:  Duração de cada sessão, papel do terapeuta, número de participantes, forma de apresentar as tarefas, avaliação feita pelo próprio participantes, feed-back do grupo, etc.

Autor - Emilio Romero

 
 
 
 
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